Temer celebra reforma trabalhista e inicia ofensiva para arquivar denúncia

O presidente da República Michel Temer já comemora a aprovação da reforma trabalhista no Senado - votação prevista para próxima semana, sem alteração no texto que veio da Câmara dos Deputados. Porém, o chefe do Executivo já acionou uma ofensiva caça-votos para arquivar as denúncias da Procuradoria-Geral da República.

O projeto da reforma trabalhista ainda depende de apreciação em plenário, mas a larga vitória obtida pelo governo na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, na quarta-feira (28), por um placar de 16 a 9 com uma abstenção, o Planalto considera atropelar a oposição na votação terminativa.

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), pretende votar o projeto no plenário da Casa antes do recesso parlamentar de julho, que começa no dia 17. Eunício bem que tentou aprovar a matéria nesta quinta-feira (29), com a votação de pedido de urgência para acelerara aprovação do projeto, mas não havia quórum.

"É natural que a matéria venha ao plenário do Senado em regime de urgência. Obviamente, vou dar espaço para aqueles que desejam fazer algum tipo de emenda em plenário. É natural que a oposição faça o seu debate. Vou seguir religiosamente o regimento da Casa", afirmou.

Cargos e projetos


A vitória na reforma trabalhista servirá para que Temer mostre ao mercado a musculatura do governo para mudar cem artigos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), além de fôlego para fazer novos agrados aos aliados, mesmo com mais custos para as contas públicas. Por esse motivo o presidente voltará atenções e esforços, agora, para salvar seu mandato no Congresso Nacional.

O Planalto espera conseguir o arquivamento das três denúncias de corrupção que estão sendo apresentadas na Câmara, contra o presidente, pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A aposta é atravessar o ápice da crise até a saída do procurador, em setembro, a ser substituído pela rival Raquel Dodge, escolhida rapidamente por Temer.

Há acenos claros ao baixo clero e aos partidos nanicos da base de apoio de que o Planalto irá recompensar a fidelidade à blindagem de Temer, com cargos e projetos nas bases dos parlamentares. Em alto e bom som o vice-líder do governo na Câmara, Darcísio Perondi (PMDB-RS), prometeu punir os infiéis com a demissão de apadrinhados e prestigiar os fiéis com recursos via projetos oficiais. "Vão perder os cargos nomeados pelos partidos na base deste deputado [traidor]. E em segundo lugar, o governo vai usar seus instrumentos do orçamento que tem, dos programas do governo, para ajudar os deputados na sua base", disse Perondi, após reunião entre o governo e a base aliada, nesta quarta-feira (28), para discutir o compromisso dos governistas com o presidente.

Sem tucanos
O Executivo espera impedir o julgamento no Supremo Tribunal Federal mesmo sem o apoio integral do PSDB. O líder tucano na Câmara, Ricardo Tripoli (PSDB-SP), inclusive, nem compareceu à reunião. Trocou a agenda por um encontro com o prefeito de São Paulo, João Dória, potencial candidato à Presidência, em 2018. Nos partidos maiores da base do governo, a estratégia já não é tão bem aceita.

Em entrevista ao DCI, o deputado Pauderney Avelino (DEM-AM), vide-líder do partido, disse que ainda não havia assistido a declaração de Perondi, e se mostrou contrário a qualquer ação nesse sentido. "Não ouvi essa declaração do deputado Perondi, em primeiro lugar. Depois, eu não concordo com esse tipo de ação. Não sei se seria eficaz", disse.

Na oposição, a manobra do presidente foi classificada com uma "vergonha", principalmente em momento de crise e porque destoa da austeridade fiscal pregada pelo governo. "É uma vergonha. Joga por terra todo o ajuste que está sendo prometido. Fazer com que cargos e emendas sejam trocados pelo País, não, mas sim para salvar a pele do Temer, pelo Temer", disse o deputado Júlio Delgado (PSB-MG).

"O governo pretende usar a legitimidade que não tem e o dinheiro que não é deles. É deplorável que um deputado se coloque nessa posição, fazendo um sinal inverso às necessidades da população, ao falar de ofertas e benefícios que ele não tem condições de ofertar", disse a deputada Andreia Portugal (BA), líder do PCdoB.

Para o analista político do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), Antônio Queiroz, esse tipo de negociação sempre foi um instrumento para todos os governos. A tendência é a de que Temer amplie da estratégia."O atual governo está dedicando mais tempo a administrar a crise do que o País, então, esse tipo de estratégia vai se dar sem nenhum pudor."
Fonte: DCI